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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Tratamento de Queimados




O tratamento de uma queimadura na fase aguda implica: a estabilização dos sinais vitais, suporte nutricional, desbridamento da ferida; antibióticos; encerramento da ferida, prevenção e tratamento de complicações (infecções e lesões do pulmão); a reabilitação, terapia ocupacional e apoio psicológico.

Numa primeira fase do tratamento o equilíbrio do doente grande queimado passa por administrar uma "grande" quantidade de soros, que vão compensar o doente pela sua perda de líquidos existe uma fórmula, designada por Fórmula de Parkland modificada que permite calcular para cada doente a quantidade de soro (Lactato de Ringer) necessário, tendo em conta a % de área corporal queimada, a idade e o peso. Multiplica-se então 3ml X KG X % SCTQ e divide-se o resultado por 2, a primeira metade dos líquidos deve ser dada nas primeiras 8 horas após a queimadura, e o restante divide-se pelas segundas e terceiras horas. Esta é uma fase muito importante para a vida do doente. Depois de se tratar deste equilíbrio, começa-se então os procedimentos cirúrgicos e a valorização de outras intervenções, tais como: o controlo da dor; a nutrição e a prevenção da infecção.

Tratamentos cirúrgicos
O tratamento das queimaduras consiste na realização de pensos diários ou em dias alternados, em que são substituídos os pensos, as ligaduras e o produto a aplicar nas mesmas. Estes tratamentos podem ser realizados sob efeito de analgésicos, ajustados ao nível de dor do doente, ou sob efeito de anestesia geral ou através de uma combinação sedação e analgésico. 

Tratamentos cirúrgicos:

Escarotomias

São cortes a nível da pele, feitos por um cirurgião plástico com um bisturi, com o objectivo de permitir que a pele queimada possa expandir, deixando passar sangue em circulação. São feitas normalmente na fase hipovolémica, em que existe um grande edema.

Fasciotomias

São cortes a nível da pele que vão até ao músculo, feitos por um cirurgião plástico com um bisturi, com o objectivo de permitir que a pele queimada possa expandir, deixando passar sangue em circulação. São feitas normalmente na fase hipovolémica, em que existe um grande edema.

Desbridamento 
Este procedimento deve ser realizado precocemente de modo a acelerar o processo de cicatrização, minizando as sequelas funcionais e estéticas. Consiste na limpeza dos tecidos desvitalizados.

Desbridamento cirúrgico:

Vantagens:

•         Técnica mais rápida e eficaz para remover tecido necrótico, resíduos tóxicos e bactérias.
•         A circulação local pode ser imediatamente melhorada.
•         Diminuição do risco de infecção.
•         A hemorragia provocada, liberta várias citoquinas, importantes no processo inicial de eparação das feridas.
Desbridamento autolítico 

Ocorre naturalmente em todas as feridas onde existe um processo altamente selectivo que envolve células (ex: macrófagos) que liquidificam e separam espontaneamente o tecido necrótico do tecido saudável. 

Desbridamento mecânico 

É um método não discriminatório que remove fisicamente os detritos da queimadura. Pode ser feito através da raspagem com uma compressa húmida, pinça, tesoura... 

Enxerto 

Procedimento realizado sempre que não existe uma epitelização espontânea da área afectada. Podem ser realizados em “placa”, isto é, com a pele inteira tal como foi retirada da zona dadora e aplicado directamente sobre a área queimada, com agrafos (geralmente utilizado nas mãos, face e região cervical, áreas mais visíveis). Pode ser feito também em quando existe pouca pele disponível para recolha. 

Autoenxerto
Consiste na remoção de pele do próprio indivvíduo para colocar sobre a sua área queimada. 

Homoenxerto 

Aplicação de pele de cadáver humano sobre a área queimada, que terá um “papel” de penso fisiológico, deixando que a pele cicatrize por baixo.

Heteroenxerto

Aplicação de pele de porco. (não é utilizado). 

CONTROLE DA DOR

Infelizmente a dor está presente em todas as fases da queimadura, desde o acidente até ao pós-alta, em que o doente para recuperar fisicamente ainda necessita de muita fisioterapia e cirurgias reconstrutivas. Daí a importância da equipa de saúde estar disperta para este problema, sobretudo os enfermeiros que estão junto do doente 24 horas. Estes devem: avaliar constantemente a presença de dor, questionando o doente; determinar a resposta à dor e perceber os mecanismos para lidar com a mesma; administrar analgésicos prescritos sempre que o doente manifeste dor; auxiliar o doente em posicionamentos que promovam conforto e/ou diminuição da dor; explicar todos os procedimentos que possam ser algo dolorosos de modo a diminuir a ansiedade e respeitando o ritmo do doente e, permitir sempre que possível, escolhas em relação à execução do tratamento (ex: escolha da veia a puncionar, posição menos dolorosa para ajudar o doente na realização da sua higiene).

Nunca duvidar da dor do doente, ela tem sempre uma explicação.
SUPORTE NUTRICIONAL

Suporte nutricional
O suporte nutricional é muito importante para o doente queimado pois as suas necessidades metabólicas estão alteradas pela queimadura. Estes doentes têm que se alimentar de uma dieta hipercalórica e hiperproteica que contribui para a sua cicatrização. O doente grande queimado grave inicia normalmente a alimentação entérica tardiamente, tal como, devido às anestesias para a realização dos pensos, fica muitas vezes em jejum. Assim, é importante prevenir: a perda de peso e massa muscular; a desnutrição; o íleo paralítico; o risco de infecção, bem como promover o bom funcionamento gastro-intestinal, através da ingestão de líquidos precoce e de suplementos alimaentares. 

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES

A perda da pele enquanto barreira ao meio ambiente, expõe o indivíduo aos microorganismos e consequentemente a infecções que podem colocar em risco a vida do doente. A infecção continua a ser a principal causa de morbilidade e mortalidade no doente queimado apesar das conquistas a nível da sua prevenção e tratamento.
São muitas as medidas assumidas nas unidades de queimados que contribuem para a prevenção da infecção, tais como: o uso de material individualizado e esterilizado (bata e luvas) para procedimentos; uso de touca e máscara; a lavagem e desinfecção das mãos tanto dos profissionais como das visitas; o isolamento e cuidados redobrados a doentes infectados; a limpeza e desinfecção cuidada de superfícies e materiais; antibioterapia dirigida e normas respeitadas por todos. È papel do enfermeiro informar doentes e família acerca destas normas para que possam ser cumpridas.



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