O tratamento de uma queimadura na fase aguda implica: a
estabilização dos sinais
vitais, suporte nutricional, desbridamento da ferida;
antibióticos; encerramento da ferida, prevenção e tratamento de complicações
(infecções e lesões do pulmão); a reabilitação, terapia ocupacional e apoio
psicológico.
Numa primeira fase do tratamento o equilíbrio do doente
grande queimado passa por administrar uma "grande" quantidade de
soros, que vão compensar o doente pela sua perda de líquidos existe uma
fórmula, designada por Fórmula de Parkland modificada que permite calcular para
cada doente a quantidade de soro (Lactato de Ringer)
necessário, tendo em conta a % de área corporal queimada, a idade e o peso.
Multiplica-se então 3ml X KG X % SCTQ e divide-se o
resultado por 2, a primeira metade dos líquidos deve ser dada nas primeiras 8 horas
após a queimadura, e o restante divide-se pelas segundas e terceiras horas.
Esta é uma fase muito importante para a vida do doente. Depois de se tratar
deste equilíbrio, começa-se então os procedimentos cirúrgicos e a valorização
de outras intervenções, tais como: o controlo da dor; a nutrição e a prevenção
da infecção.
Tratamentos cirúrgicos
O tratamento das queimaduras consiste na realização de
pensos diários ou em dias alternados, em que são substituídos os pensos, as
ligaduras e o produto a aplicar nas mesmas. Estes tratamentos podem ser
realizados sob efeito de analgésicos, ajustados ao nível de dor do doente, ou
sob efeito de anestesia geral ou através de uma combinação sedação e analgésico.
Tratamentos cirúrgicos:
Escarotomias
São cortes a nível da pele, feitos por um cirurgião plástico
com um bisturi, com o objectivo de permitir que a pele queimada possa expandir,
deixando passar sangue em circulação. São feitas normalmente na fase
hipovolémica, em que existe um grande edema.
Fasciotomias
São cortes a nível da pele que vão até ao músculo, feitos
por um cirurgião plástico com um bisturi, com o objectivo de permitir que a
pele queimada possa expandir, deixando passar sangue em circulação. São
feitas normalmente na fase
hipovolémica, em que existe um grande edema.
Desbridamento
Este procedimento deve ser realizado precocemente de modo a
acelerar o processo de cicatrização, minizando as sequelas funcionais e
estéticas. Consiste na limpeza dos tecidos desvitalizados.
Desbridamento cirúrgico:
Vantagens:
• Técnica
mais rápida e eficaz para remover tecido necrótico, resíduos tóxicos e bactérias.
• A
circulação local pode ser imediatamente melhorada.
• Diminuição
do risco de infecção.
• A
hemorragia provocada, liberta várias citoquinas, importantes no processo
inicial de eparação das feridas.
Desbridamento autolítico
Ocorre naturalmente em todas as feridas onde existe um
processo altamente selectivo que envolve células (ex: macrófagos) que
liquidificam e separam espontaneamente o tecido necrótico do tecido saudável.
Desbridamento mecânico
É um método não discriminatório que remove fisicamente os
detritos da queimadura. Pode ser feito através da raspagem com uma compressa
húmida, pinça, tesoura...
Enxerto
Procedimento realizado sempre que não existe uma epitelização espontânea da área afectada. Podem ser
realizados em “placa”, isto é, com a pele inteira tal como foi retirada da zona dadora
e aplicado directamente sobre a área queimada, com agrafos (geralmente utilizado
nas mãos, face e região cervical, áreas mais visíveis). Pode ser feito também
em quando existe pouca pele disponível para recolha.
Autoenxerto
Consiste na remoção de pele do próprio indivvíduo para
colocar sobre a sua área queimada.
Homoenxerto
Aplicação de pele de cadáver humano sobre a área queimada,
que terá um “papel” de penso fisiológico, deixando que a pele cicatrize por
baixo.
Heteroenxerto
Aplicação de pele de porco. (não é utilizado).
CONTROLE DA DOR
Infelizmente a dor está presente em todas as fases da
queimadura, desde o acidente até ao pós-alta, em que o doente para recuperar
fisicamente ainda necessita de muita fisioterapia e cirurgias
reconstrutivas. Daí a importância da equipa de saúde estar disperta para
este problema, sobretudo os enfermeiros que estão junto do doente 24 horas.
Estes devem: avaliar
constantemente a presença de dor, questionando o doente; determinar a resposta à dor e perceber
os mecanismos para lidar com a mesma; administrar analgésicos prescritos sempre que o
doente manifeste dor; auxiliar o
doente em posicionamentos que promovam conforto e/ou diminuição da dor;
explicar todos os procedimentos que
possam ser algo dolorosos de modo a diminuir a ansiedade e respeitando o
ritmo do doente e, permitir
sempre que possível, escolhas em relação à execução do tratamento (ex: escolha
da veia a puncionar, posição menos dolorosa para ajudar o doente na
realização da sua higiene).
Nunca duvidar da dor
do doente, ela tem sempre uma explicação.
SUPORTE NUTRICIONAL
Suporte nutricional
O suporte nutricional é muito importante para o doente
queimado pois as suas necessidades metabólicas estão alteradas pela queimadura.
Estes doentes têm que se alimentar de uma dieta hipercalórica e hiperproteica que contribui para a sua
cicatrização. O doente grande queimado grave inicia normalmente a
alimentação entérica tardiamente, tal como, devido às anestesias para a
realização dos pensos, fica muitas vezes em jejum. Assim, é importante prevenir: a perda de peso e massa muscular; a
desnutrição; o íleo paralítico; o risco de infecção, bem como promover o bom
funcionamento gastro-intestinal, através da ingestão de líquidos precoce e de
suplementos alimaentares.
PREVENÇÃO DE INFECÇÕES
A perda da pele enquanto barreira ao meio ambiente, expõe o
indivíduo aos microorganismos e consequentemente a infecções que podem colocar
em risco a vida do doente. A infecção continua a ser a principal causa de
morbilidade e mortalidade no doente queimado apesar das conquistas a nível da
sua prevenção e tratamento.
São muitas as medidas assumidas nas unidades de queimados
que contribuem para a prevenção da infecção, tais como: o uso de material
individualizado e esterilizado (bata e luvas) para procedimentos; uso de touca
e máscara; a lavagem e desinfecção das mãos tanto dos profissionais como das
visitas; o isolamento e cuidados redobrados a doentes infectados; a limpeza e
desinfecção cuidada de superfícies e materiais; antibioterapia dirigida e
normas respeitadas por todos. È papel do enfermeiro informar doentes e família
acerca destas normas para que possam ser cumpridas.
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